terça-feira, 2 de agosto de 2011

Maria da Esperança nome de Salva-Vidas

Em homenagem às mulheres da pesca, o novo Salva-Vidas recebeu o nome Maria da Esperança, mulher lutadora, nascida em Rabo de Peixe, em Julho de 1930.

A 20 de Julho, ao lado das autoridades civis e militares, e a convite da Capitania do Porto de Ponta Delgada, alguns pescadores e numerosas mulheres ligadas à pesca (armadoras e/ou familiares de pescadores) viveram uns momentos tocantes. Nessa manhã foi baptizado o novo Salva-Vidas da Capitania: uma embarcação rápida e dotada da instrumentação necessária para se situar na primeira linha de uma operação de socorro. Algo, em suma, que pode realmente fazer a diferença entre a vida e a morte de quem busca no mar o seu sustento.

A cerimónia, simples e intensa, teve para as mulheres da pesca um significado especial: com grande sensibilidade, o Capitão do Porto, Capitão de Mar e Guerra João António da Cruz Rodrigues Gonçalves, pediu à Associação Ilhas em Rede que sugerisse o nome de uma mulher para o novo Salva-Vidas.

Não foi fácil, para a Associação, escolher um: tantos, afinal, seriam possíveis…. No dia-a-dia das gentes da pesca, para além das mulheres que participam directamente na faina, muitas outras praticam diariamente um heroísmo silencioso, feito de esforço, de solidariedade activa, de cuidados de todos os géneros para com os seus pais, filhos ou companheiros. Contudo, um nome foi sugerido: o novo Salva-Vidas chama-se Maria da Esperança, em honra de uma mulher cuja vida bem exemplifica a experiência colectiva das mulheres ligadas ao mar.

Nascida a 3 de Julho de 1930 em Rabo de Peixe, onde viveu toda a sua vida, casou com o pescador Henrique Oliveira Cabral e teve quinze filhos: os nove que estão vivos pertencem todos à fileira da pesca. Toda a vida desta senhora foi uma dádiva em prol da sua família e da sua comunidade. A atenção e a ternura que a notabilizaram como companheira, mãe e avó (deixou 53 netos que a recordam com grande saudade) não esgotaram pois as suas energias. Maria da Esperança, ao lado de Maria Natália Estrela Andrade, ainda viva, desempenhou um papel crucial nas lutas que, entre 1994 e 1995, levaram à conquista do subsídio de Mau Tempo (o antepassado do actual Fundo de Pesca), chegando a fazer parte da delegação que se encontrou com o então Presidente do Governo Regional, Dr. João Bosco Mota Amaral.

Maria da Esperança morreu em 2006, com setenta e seis anos, e é recordada com admiração. Os familiares emocionaram-se, quando a bandeira portuguesa que encobria o nome do barco foi retirada. Duas das suas filhas, Maria do Espírito Santo e Nélia, bem como uma nora, fizeram questão de vestir neste dia umas roupas de cerimónia que pertenceram à mãe, de quem lembravam a beleza e o aprumo: pois esta mulher, que esteve na frente de uma grande família e que foi sempre uma lutadora, era bela e gostava de roupas bonitas e de saltos altos: mais um modo de exprimir o seu amor à vida.

Como disse Lurdes Batista Lopes, Presidente de Ilhas em Rede, o nome do novo Salva-Vidas homenageia todas as mulheres da pesca: pois todas mantêm viva a esperança num mundo mais justo e mais digno para quem vive do perigoso trabalho do Mar.

Texto: Catia Benedetti

Foto: Joana Medeiros